quinta-feira, 25 de março de 2021

Química e o Currículo Paulista

Historicamente, o componente curricular de Química da etapa do Ensino Médio passou por modificações até atingir as propostas adotadas neste Currículo. De um ensino essencialmente teórico, a Química tornou-se tecnicista, enfatizando a necessidade de uso de laboratório e da compreensão do processo de produção do conhecimento científico e cotidiano. 

Nos tempos atuais, a Química vem ao encontro das necessidades humanas, econômicas, sociais e ambientais, que requerem uma amplitude de conhecimentos que potencialize a reflexão, o protagonismo, a investigação e a aplicação do conhecimento científico-tecnológico, garantindo o bem da coletividade, com sustentabilidade e sem agressão ao meio ambiente. A partir dessas premissas, para a construção do componente curricular de Química, utilizou-se como ponto de partida o Currículo do Estado de São Paulo (2008) e como parâmetro a BNCC, homologada em 2018. 

A responsabilidade deste componente, juntamente com a área de conhecimento das Ciências da Natureza e suas Tecnologias, é explicar e ampliar a visão do estudante sobre a vida e sobre os fenômenos ocorridos no planeta. Diante dos desafios enfrentados hoje, a Química torna-se um instrumento fundamental na consolidação da formação integral humana. 

O estudo da Química qualifica o estudante para as mais variadas circunstâncias da vida, pois agrega valores humanos e promove condições de interpretação da realidade, dos fenômenos naturais e de processos produtivos, além de fortalecer o protagonismo, a percepção crítica, a resolução, a elaboração de problemas e a tomada de decisão. 

É uma ciência que, além de ampliar o repertório cultural, também constitui uma ferramenta para o mundo do trabalho. A Química prioriza a alfabetização científico-tecnológica como uma condição da educação integral e inclusiva, que acolhe as juventudes e se compromete com o projeto de vida do estudante, com vistas ao exercício pleno da cidadania. 

Os objetos do conhecimento abordados na Química devem corresponder aos desafios que o estudante vive em seu cotidiano, de forma significativa e contextualizada, para ampliar a consciência socioambiental de sua localidade e do mundo, discernir criticamente sobre as diversas fontes científicas de informação e, principalmente, promover condições para a produção de conhecimento e de autoria

Faz-se necessário utilizar métodos de ensino compatíveis e adequados para o alcance dos objetivos apontados, como propõe o Ensino Investigativo, em que as práticas pedagógicas não se limitem a experiências demonstrativas ou laboratoriais, mas também envolvam percepções da realidade. 

A abordagem investigativa deve ser um alicerce para os desdobramentos nos estudos das ciências naturais, pois agrega: a curiosidade para identificar problemas; a elaboração de hipóteses; a criatividade para encontrar soluções; o discernimento para comparar informações; a observação de um problema dentro de um contexto; a pesquisa de fontes confiáveis; o planejamento de ações e procedimentos; a realização de experimentos para coletar dados e comprovar informações; a elaboração de argumentos e explicações; a avaliação e divulgação de conclusões com embasamento científico; e o desenvolvimento de ações para intervenção em problemas reais em nível individual e/ou coletivo. 

Utilizar metodologias ativas, permite que o estudante torne-se gradativamente corresponsável pela sua aprendizagem. E trabalhar sob uma abordagem científica possibilita ampliar a visão dos objetos do conhecimento, de forma transdisciplinar e interdisciplinar, podendo até mesmo extrapolar as competências e habilidades das Ciências da Natureza e suas Tecnologias. 

A percepção dos diferentes contextos e regiões, para a aplicação científica da Química é fundamental, pois a abordagem investigativa promove um olhar sensível e atento aos fenômenos químicos naturais, aos processos produtivos e às condições socioambientais, para que o encaminhamento de propostas e decisões seja adequado, com vistas à resolução dos problemas apontados. 

É imprescindível, na Química, que os saberes de diversas culturas, povos e etnias sejam respeitados em seus contextos e costumes. Considerar os aspectos regionais e identificar o repertório cultural incrementa o tema abordado e os fenômenos observados, possibilitando solucionar de forma mais eficaz e significativa as situações-problema contemporâneas – por exemplo, o protagonismo científico dos povos indígenas e das populações afrodescendentes que contribuem com suas vivências e formas diferenciadas de explicar o mundo natural e físico-químico. 

Essas contribuições estão presentes no cotidiano do homem urbano contemporâneo, como alguns alimentos advindos do conhecimento desses povos, com sua experimentação constante e suas técnicas de observação aprimoradas. 

Além disso, as diferenças climáticas e de relevo das diferentes regiões, que determinam o tipo de recursos vegetais e animais e os processos produtivos desenvolvidos nas localidades, precisam ser consideradas para os estudos das Ciências da Natureza, por apresentarem impactos socioambientais diferenciados de uma região para outra. 

Com base nesses preceitos, para a construção do Organizador Curricular, em todos os componentes curriculares da área de Ciências da Natureza, foi realizada a distribuição dos objetos do conhecimento de acordo com as competências e habilidades específicas, por meio de blocos temáticos - as unidades temáticas, que agrupam diversos objetos do conhecimento que possuem proximidade entre si; são elas: Matéria e Energia; Vida, Terra e Cosmos; Tecnologia e Linguagem Científica. 

Na unidade temática Matéria e Energia, a Química busca analisar, explicar e prever as transformações químicas e os seus efeitos nas interações entre matéria e energia, com o objetivo de aperfeiçoar processos produtivos, avaliar a qualidade, as potencialidades, os limites e os riscos do uso de materiais, minimizando de forma consistente os impactos socioambientais. 

Na unidade temática Vida, Terra e Cosmos, que coloca em pauta a origem e a evolução da vida, a Química analisa as relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente, para prever e avaliar impactos humanos e ambientais, decorrentes das ações atuais do homem no planeta, enfatizando a busca de soluções éticas e responsáveis para um futuro mais equilibrado e saudável. 

Na unidade temática Tecnologia e Linguagem Científica, a Química procura investigar e avaliar a aplicação da tecnologia nas relações humanas e no planeta, utilizando a linguagem das Ciências da Natureza como forma de expressão, visando interpretar e propor soluções alternativas que favoreçam a qualidade de vida do ser humano, minimizando impactos ambientais no planeta com vistas à sustentabilidade. 

Além da utilização de recursos midiáticos e tecnologias digitais para obter e interpretar dados, elaborar e divulgar trabalhos científicos, o intuito é possibilitar e intensificar a discussão e a avaliação das aplicações do conhecimento científico-tecnológico na vida humana e no meio ambiente. 

De maneira mais específica, o componente curricular de Química apresenta seus objetos do conhecimento a partir das unidades temáticas, dispostas da seguinte forma: 

A unidade temática Matéria e Energia, reúne os seguintes objetos do conhecimento: transformações químicas; conservação de massa e energia; constituição da matéria; tabela periódica; soluções e concentrações; termoquímica; ciclos biogeoquímicos (propriedades, características e poluentes que interferem); transformações químicas que envolvem corrente elétrica; 

fontes alternativas de obtenção de energia elétrica; combustíveis alternativos, recursos minerais, fósseis, vegetais e animais (métodos sustentáveis de extração, processos produtivos, uso e consumo); agentes poluidores do ar, da água e do solo (ações de tratamento e minimização de impactos ambientais, concentração de poluentes e parâmetros quantitativos de qualidade); descarte de materiais, reciclagem e impactos ambientais. 

A unidade temática Vida, Terra e Cosmos, reúne os seguintes objetos de conhecimento: evolução dos modelos atômicos; ligações químicas; forças de interação interpartículas; rapidez das transformações químicas; equilíbrio químico; ciclos biogeoquímicos (toxicidade das substâncias químicas, tempo de permanência dos poluentes, impactos ambientais e na saúde dos seres vivos); 

química ambiental (políticas ambientais, parâmetros qualitativos e quantitativos; compostos orgânicos (funções orgânicas: características para a saúde humana); interações intermoleculares e estrutura dos aminoácidos, proteínas, DNA e RNA; elementos e substâncias químicas na origem da vida: história, estrutura e composição. 

A unidade temática Tecnologia e Linguagem Científica, reúne os seguintes objetos do conhecimento: investigação científica; seleção, elaboração e comunicação de dados e informações científicas; tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) aplicadas à química; cultura de debates e argumentação científica; ética científica na química; ações de segurança, tecnologias de equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC) e descarte seguro de resíduos de ambientes de trabalho; 

materiais e sistemas produtivos (propriedades, estruturas, composições, características, toxicidade, aplicações); transformações químicas que envolvem corrente elétrica (formação de resíduos, descarte adequado); descarte de lixo eletrônico; entalpia de combustão (eficiência energética); 

recursos renováveis e não renováveis – impactos ambientais e sustentabilidade; energias alternativas; 
qualidade de serviços básicos e saúde pública: tratamento de água e esgoto; compostos orgânicos: funções orgânicas, estrutura e propriedades; alimentos: produção, composição nutricional, estrutura e propriedades (proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas); agrotóxicos. 

É importante destacar que alguns objetos do conhecimento indicados para o Ensino Médio já foram estudados no componente curricular de Ciências do Ensino Fundamental, porém, serão retomados com o devido aprofundamento de conceitos e termos científicos, com adequação à faixa etária e cognitiva do estudante e com o desenvolvimento de habilidades mais complexas e elaboradas. 

Os objetos do conhecimento selecionados na Química aprofundam e consolidam as aprendizagens essenciais destinadas à parte diversificada comum do Ensino Médio. Temas diferenciados, com características de aprofundamento teórico, com aportes conceituais mais elaborados para a ampliação da aprendizagem na Química, serão desenvolvidos nos itinerários formativos da própria área de CNT ou nos itinerários formativos integrados, com a união das demais áreas do conhecimento e/ou na formação técnica e profissional

Esses temas têm como objetivo atender às expectativas educacionais do estudante, que irá escolher seus itinerários formativos com base em seus projetos de vida. Assim, os itinerários têm como proposta o aprofundamento das aprendizagens relacionadas às competências e habilidades gerais, consolidando a formação integral do estudante, para uma atuação mais consistente na sociedade, com vistas ao mundo do trabalho e à continuidade dos estudos. 

Observa-se que o aprofundamento dos conhecimentos se dará na continuidade dos temas, com grau de profundidade e complexidade maior, especificando casos de aplicação mais significativos para a contemporaneidade, no estudo da Química no Ensino Médio. 

Todas as perspectivas educacionais estão representadas nas competências e habilidades da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, somadas ao incentivo à leitura, escrita, comunicação, argumentação, autoria, autonomia, uso de tecnologias diferenciadas e elaboração e apresentação de trabalhos que implementem ações científicas éticas. 

Dessa forma, espera-se que o estudante desenvolva suas potencialidades ao se apropriar dos conceitos, postulados e procedimentos da Química, e amplie seus horizontes e perspectivas para a construção do seu projeto de vida, possibilitando a formação de um ser humano íntegro, participativo, resiliente, solidário, produtivo, que realiza escolhas embasadas na ética, na ciência e na tecnologia, para intervenções responsáveis que beneficiem a si próprio e à coletividade.

Fonte:
https://efape.educacao.sp.gov.br/curriculopaulista/wp-content/uploads/sites/7/2020/08/CURR%C3%8DCULO%20PAULISTA%20etapa%20Ensino%20M%C3%A9dio.pdf

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